quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

um glaciar verde-lima
congelado ao céu vespertino
e só uma coroa azul-celeste
a ser mais do que se vê
aviões intrusos
a pairar sobre manadas de nuvens
brutas e opacas
num cortejo longínquo
em trovoadas de silêncio
só brilho
só luz
o verdadeiro grito da criação
o cuspe que nos moldou o corpo
em pedras preciosas
numa caixa de betão

iluminam-se as lágrimas celestiais
é o tempo da claridade obscura
o amor pelo medo
gritos   ternura
acendemos o escuro da rua
com invejosos letreiros de néon
a avisar que estamos aqui
a passear ambulâncias histéricas
outro aviso de que estamos aqui
que nos deixaram sozinhos
com monstruosas maravilhas
tentação   descontrolo
o vício pelo apodrecimento do espírito
a não-vontade em ser melhor

Noite de frio, com luas escuras,
minha Mãe desde o Antes
acende-lhes as suas mãos-estrelas
acorda-lhes a razão
porque antes ter tino
do que um coração bolorento
a metastizar corpo fora
a parasitar outros corpos também
que se alinham em dissimuladas marchas
para chegarem onde lhes convém
soam alarmes
trompetes   foguetes
derrubam-se pessoas
como paredes
não há muros que se aguentem de pé
vão de cabeça
não vão pela fé

emulsionam-se virtudes
que expandem para ocupar
tapam-nos os olhos
e a verdade
outra forma de cegar
somos só isto
carne em andamento
rotinas sem alimento
esquecemos que podemos ser mais
que nos podemos abraçar mais
e olharmo-nos mais
para percebermos que apesar do reflexo
somos todos iguais
duas mãos uma boca
é o que basta para alastrar o lume
que se retém nos corpos
mortais

medula   veneno
tudo circula quando há medo
neste mundo pustulento
resta saber quem o quer tratar
olhem para dentro
e que morra em paz quem não se quer importar.

9 fevereiro 2017 : 17.56

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