sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Queda.

Se há medo que nao tenho é cair em abismo aberto, soltar-me da terra o mais rápido que posso e voar em declínio fatal.
Há muito que não soube berrar, nem por mim nem por outro alguém, mas quando a chuva não arrefece o corpo há vontades que são mais fortes. Estoirei-te a cabeça quando te falei do corte que fiz no coração. E tu cortaste o teu para saberes do que eu falava. Choraste. Eventualmente os pulsos vão deixar de arder.
De raiva ancorada aos pés arranho-me por não saber falar. Cuspo vidros em forma de cristais que me encandeiam. Censuro-me por proíbição de uma lingua só minha. E deixo de ver a seguir.
Atei-me aos pés dele sem saber como lhe encontrei o corpo num nevoeiro de poeira prateada. Arruina-me e deixa-me sentir mais que qualquer outras luas. Não sei porquê, mas é vício nos meus dedos tal veneno que se dissipa nos meus lábios.
Já nem os óculos servem para deixar de sonhar. Há sempre luz que me adormece em transe fumarento. Dor de não saber o que ter.
Por isso não me agarrem quando cair. Avisem-me que não chega soltar-me de corpo leve para um poço de feitiços voadores. Não. Quero que me digas como construir um caminho até ti, feito de pedrinhas de seda que não fogem quando as piso. Grita-me que não me queres deixar ir. Escreve-me que o sonho é verdade.
Deixa-me abraçar-te. Parei de sentir, ouvir, querer estar sozinho.

23 Fevereiro 2007 : 21.09

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Qualquer coisa.





Um pedido especial ;)

domingo, 4 de fevereiro de 2007

A morte de Al Berto.


sobem nuvens de éter num céu de uma cor qualquer
há sangue derramado no chão
como seiva incandescente
ouvem-se os gritos das facas no arranhar da carne
putrefacta
lambida pelo tempo azedo que não nos deixa rejuvenescer

não há mais nada senão papel
e o teu nome no canto rasgado do meu coração
por isso hoje sou eu que me vou embora como se fosses tu a fugir

não quero olhar para trás
com medo de te encontrar num canto de uma casa abandonada
talvez pintada de branco por uma brisa de Agosto
vou-me deixar naufragar em becos lisboetas onde as luzes dos candeeiros estarão à minha espera
e as buzinas dos carros serão melodia de um novo sonho
sigo apenas o rasto da mordedura das abelhas que não souberam fazer ninho nos meus olhos
que inflamavam na loucura dos teus beijos de mel

já não durmo mais contigo
nem espero pelo amanhecer para fumar um cigarro dos teus
não te direi mais o quanto és belo nem entrarei mais em ti
numa fusão distinta de gelo com absinto a fumegar
não te escrevo mais
não escrevo mais

vou partir
e levo apenas tigres num baú de insanidade
e corpos filiformes que se partem ao toque dos meus dedos
gelados

não me procures para onde vou
encontra-me nas pegadas de poeira de lume
em todas as casas que habitámos
por uma noite
ou uma tarde molhada pelo sal de um oceano qualquer
talvez encontres o Alberto ou o Al Berto te encontre a ti
num esplendor de luz miúda
onde os lábios serão encontro de jóias transparentes

toca-me nas estrelas
que serão nossas para sempre
como compromisso fotográfico que se guarda numa memória de relâmpago

parto agora
e ainda levo comigo o peso de ter
nunca mais
4 Fevereiro 2007 : 20.43


[fotografia: Paulo Nozolino (pormenor da imagem de capa de "Horto de Incêndio")]

Irrita-me a maneira como me perturba a tua fotografia na cabeça. E o sonho de lutares de novo comigo em abraços escondidos para ninguém perceber. Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça!
Não quero aguentar o teu peso em danças que não consigo acompanhar. És um caminho demasiado longo para rastejar. E, no entanto, gosto tanto de ti que vejo todas as tuas fotografias e oiço musicas que me lembram o teu sorriso antes de me deitar. Sai da minha cabeça!
Estás longe demais e não compreendo porquê que continuo a desejar-te como se fosses possivel de existir em mim. Doís-me.

4 Fevereiro 2007 : 7.15