quarta-feira, 26 de março de 2014

estudo de poesia visual no.1

não
são
os
teus
dias
que
me
olham
nas
idas
por
outro
deus
mas
é
nos
teus
dias
que
eu
vejo
os
meus.

mais-que-incondicionalmente.

26 Março 2014 : 00.08

Quantos loiros nasceram africanos? E quantos negros são finlandeses? De quantas cores é a pele da américa? Há narizes grandes e chineses? Ou olhos em bico nascidos em paris, em moscovo ou mesmo em portugal? Até o sangue o temos geneticamente semelhante. Claro que não é nada físico que nos vai distinguir. Somos os guardiães de algo maior. Transportamos a riqueza de um eco vivo e perene. Nós somos a nossa Língua e deixamo-La infectar-nos e crescer connosco. Qual uniformização de como falo ou escrevo! Que se vá foder quem acredita que o caminho é convergir, é retirar, condensar para que seja cada vez menos. A Língua deve ser múltipla. É a nossa marca mais ancestral a evoluir de um ruído, por mais grotesco que tenha sido o eventual grito. É mutante e difundiu-se e diferenciou-se. Atribuíram-lhe diferentes importâncias e preços. Globalizou-se. Mas cada um tem a sua origem e a sua língua original. Com gramáticas complexas e léxicos singulares e intraduzíveis. A Língua é tão rica que alimenta; é tão divergente que apaixona; é lacerante ao ponto de suicidar; é tão pesada que nos enche por dentro. É a mãe e o pai de todos os qualquer um que somos. É mais que deus, que nunca teve língua nenhuma. Por isso deixem-Na ser violada e corrompam-Lhe as costuras. A sua natureza é dinâmica, expande-se. Tem trejeitos e derivações de geração para geração. Morre e reencarna. Transmite-se, contagia, infesta. Ocupa. É hierarquicamente ramificada e enraíza-nos. Até o dialecto em maior minoria é incalculavelmente raro. Deixem que a Língua vos consuma e cuidem dela. Edifiquem-Na. Não Lhe mudem os significados mas criem novos sotaques e palavras. Acrescentem-Lhe novas arestas e aguçados desvios atrevidos. Murmurem-Na. Diz qualquer coisa para ti mesmo e vê o quão único te soa a dizê-lo. Escreve e decora as formas do teu traço. Deixem-Na ser convosco para que sintam saudades da sua ausência.
15 Março 2014: 19.39

Pedro Cadilhe

Subiram-me umas dores à cabeça
com um aperto no peito e uma espécie de azia.
Encolhi-me todo e arrotei um verso.
Foi só uma crise de Poesia.
14 Março 2014 : 13.19