quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

O sonho.


Noite agitada por mergulhos subterrâneos e medos recalcados por teorias não explicadas. Nem as nuvens ficam para assistir e afastam-se de mãos dadas com o vento. Abrem-se portas escuras no arrepio de uma melodia estranha que me vicia. Grito. E tenho medo depois de gritar.
Rasgo-me em pedaços para poder fugir melhor. Nem eu quero ficar para me ver. Olho para o céu escuro, que de negro tem o meu sabor, e corro por passeios descalços de mil e uma estrelas onde descanso os meus pés arranhados pelo frio. Não paro.
Chego a ti, numa ilusão de te poder ver o reflexo no mar e deixo-me violar as entranhas de todas as moléculas do oceano, harmoniosamente dispostas para me acolherem no seu útero de mistérios. Agonio num sufoco essencial, que me lembra de que é que sou feito, e diluo-me em tintas vermelhas que te poluem o corpo. Deixo-me fundir com o teu sangue.
Decoro-te os contornos e tapo-te a cara. O teu sorriso escurece-me a voz. Por isso calo-me no pecado de não saber parar e desenho-o para o ter guardado só para mim. Só para mim! Ao menos guardo-te a imagem e o sofisma de te poder ter fora do papel um dia.
Agarras-me o braço e dizes que também gostas de mim, num segredo arrependido que não consegues aguentar de tão sobejo que é. Deixas-me sentir o meu desejo imaginário de te tocar os lábios, por segundos que sejam, num prenúncio de eternidade. Prometes que ficas desta vez.
Não percebo porque páras. Agora és tu quem se desfaz. És fumo do cigarro antes de me deitar e não me deixas aspirar-te para dentro de mim. És noite e o nascer do novo dia. Não percebo! Abro os olhos.
Acordo. E choro por acordar com os lábios molhados.
17 Janeiro 2007 : 03.46

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Saudades desses raios de sol tão amarelos.

Que vontade. Vontade de acordar tarde com o cheiro a terra junto à cabeça. Vontade de andar de Havaianas e túnicas coloridas. Vontade de andar descalço e sentir a areia entre os dedos. Vontade de fazer o jantar às horas que o sol mandava. Vontade de sair de casa e saber que vou fugir de comboio, sem saber para onde. Vontade de visitar Coimbra e ficar um dia inteiro na cama. Vontade de ensaiar coreografias na areia molhada. Vontade de andar de camioneta horas e horas, mesmo que avarie. Vontade de me deitar na tenda e fechar os olhos e ser chamado pelo JP para o jantar. Vontade de tomar banho de água gelada. Vontade de ver a minha Nokinhax a dormir. Vontade de esperar por mais concertos. Vontade de estar lá. Vontade de ir às compras numa mercearia qualquer. Vontade de me aquecer no sol do fim da tarde de Milfontes. Vontade de jogar Mikadu com o Nuno, num café com tons árabes. Vontade de montar a tenda e arrumar o saco-cama. Vontade de rir muito. Vontade de mergulhar no mar. Vontade de estar no trânsito e pôr os pés de fora da janela. Vontade de andar descalço em Lisboa. Vontade de acordar a cheirar a Bairro Alto. Vontade de andar de óculos de sol e cheirar a creme de praia. Vontade de fazer chá e fumar de madrugada. Vontade de me sentir livre. Vontade de sentir o calor.
Tudo porque tenho saudades desses raios de sol tão amarelos.
10 Janeiro 2007 : 04.33