segunda-feira, 30 de abril de 2007

Não os deixes fechar.


Fechei os ouvidos para te poder sentir quando chegasses, mas os olhos cairam em colapso brutal. Fecharam cansados de imaginar demais.
Ainda me dói o peito dos arranhões que deixaste. E a cabeça arde de tudo aquilo que dissemos. Venenos que nos queimaram por dentro, num turbilhão de luzes incandescentes, em berros de silêncios não explicados. Doeu. Eu sei que doeu.
Deixei-me cair, sem querer, e sonhei com reflexos que não são os teus, em espelhos que quis partir. Arrependo-me e peço-te ajuda para a afastares. Não a deixes ficar, com os seus encantos de opióides ácidos que me corroem a vontade. Chama-me pelo lado racional e apaga-me as miragens das pálpebras, que se escondem quando acordo. Não a quero por perto. Não quero.
Já nem sinto as mesmas saudades. Quero outra vez os comboios e as viagens sem regresso, as praias a rebentar de azul e os quartos escuros perfurados pela luz dos candeeiros. Quero repetir, mas há cansaço a mais em mim. E a vontade está inerte, numa ataraxia mentirosa. Sintomas do início.
Abana-me e desenha-me de novo. Quero-te sentir o cheiro e mexer-te no cabelo molhado. Quero-me afundar nos teus olhos e encostar no teu abraço. Deixa-me dormir mais uma vez contigo. E outra e outra vez, numa reconquista ainda por começar.
Não repitas os momentos azedos, nem te cales em dúvidas que não são verdade. Abre-me os olhos, porque da próxima vez, o silêncio pode fechá-los de vez.

30 Abril 2007 : 04.26

sábado, 7 de abril de 2007

Poço.

E se o cosmos se concentrasse na mesma varanda em que eu o admiro? Rodopiando sobre mil e uma estrelas descobertas de céu? Seria alucinação pertinente para merecer um beijo teu? Talvez encontrasse alguma certeza misturada no brilho verde da tua solidão, sonho premonitório de noites e dias de luz. Eu gostava de acordar todos os dias com um beijo na testa e dizer-te 'até logo' até voltares. Sonhas o mesmo que eu? Ou julgas que são feitas de metonímias todas as palavras que já te disse? Deixa-me beber-te mais um pouco, numa taça de vinho azedo para te sentir melhor o sabor. Quero sentir a acidez do teu toque no amanhecer lento de todos os dias e poder repetir sem parar o vício que já me possuiu. Arranha-me as costas para me dizeres que ainda cá estás, mas não me vejas chorar quando acordo sem ti. Não te prendas em fumos estranhos de cores por inventar porque esses encantos levam-te para mais longe de mim. Quero que voltes a sussurar-me ao ouvido e que grites por mais abraços. Loucura. Loucura. Loucura! Sentido impróprio de gostar da tua presença, mesmo que não haja qualquer lençol sobre nós. Mais um. Outro cigarro dos teus, de trago macio que não me deixa mais dormir, como sol alaranjado nas tardes de outono tardio. Abraço-te e não te deixo cair, e se caires voamos os dois para um poço redondo onde o fundo é feito do compromisso que assumimos os dois.

21 Março 2007 : 16.12