segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Rasurar.

Devia era rasurar-te, que é mais que apagar. Rasurar é deixar a marca para lembrar mais tarde. Rasurar é riscar, rabiscar, que é mais do que escrever por cima. Escrever por cima é uma correcção ou uma nota de uma ideia melhor. Rasurar é dizer que não, que está mal, que é um erro. Não repetir. Não repetir. Não repetir. E repetir isto as vezes suficientes para não voltarmos a... Rasurar é traçar o limite da fronteira do que é aceitável, aliás, do que é aceitável não, do que deve e não deve ser feito. Pode-se rasurar a vermelho, a verde ou na mesma cor do que está por baixo, consoante a gravidade do erro ou a preguiça de quem rasura.
No fundo, rasurar é outro tipo de sublinhar, independentemente da semelhança do traço. É um sublinhar-não-sublinhar. É evidenciar a gralha para não a repetir. Já me estou a repetir? Rasura. Recomeça.
Rasurar é recomeçar, é começar de outra forma (assim, sim) com o conhecimento para ser melhor, para ser, porque se se rasura é porque não foi ou não devia ter sido. Rasurar é reduzir, é tapar, esconder a saber o que lá está, saber que está ali, merda! Porque rasurar não é apagar. E repito: rasurar não é apagar. E hei-de rasurar todos os dicionários que o dizem.
E depois há a forma da rasura, desde o traço simples ao rabisco ondulado, as espirais ou os ziguezagues, que acentuam a gravidade ou a vontade de tapar. Às vezes é desproporcional. Às vezes é exagero. Às vezes queremos deixar à vista uma ponta ou outra da falha, para sabermos como fazer da próxima vez. Ou então é só estupidez. E a estupidez é cíclica, por mais vezes que se rasure, que é mais que apagar, mas menos do que esquecer, que é o que eu não consigo fazer.
25 Novembro 2013 : 19.43