terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mordaça.

Soltem-se os vidros das janelas e caiam as casas aos pedaços. Preciso de espaço para rebentar com a cabeça. E com os braços, pernas e peito. Manchar tudo num oceano escuro. Reduzir-me a um berro de fumo. Reduzir-me a um fio de cabelo encaracolado. Reduzir-me.
Arranham-me a garganta todas as palavras que se acumulam rente aos lábios. Não sei quais são, não lhes conheço o nome. E as imagens na cabeça em metástases pelo corpo.
Os olhos são de tinta preta, turvos como o frio pela manhã. Aumentam a cada ruído novo, a cada golpe fora do tempo. Encolhem no bocejo fraco de quem tem fome de algo mais. Sim. Os olhos também sabem se defender. Artes que se aprendem com o tempo. Artes que se aprendem quando não temos um corpo para abraçar.
Tenho a máscara a estalar. As feridas já sangram sem dor e sem uma única gota de água salgada.
Antes fosse tudo mais fácil. Antes adormecesse com o meu nome sussurado nos ouvidos.
18 Dezembro 2007 : 01.55

sábado, 8 de dezembro de 2007

Catarina.

Dançavas agora para mim se te pedisse, mesmo que não soubesses que te estaria a observar? Entre notas vibrantes de um piano e um violino arranhado, que achas? E vestirias o quê? Um vestido velho e roxo ou uma camisola de lã a descer-te aos joelhos?
Sabes bem que te invejo. Tens os olhos maiores do que parecem e a chuva fica-te bem no cabelo. O risco preto em lugares estranhos da cara que quando borrata só aumenta os mistérios dentro da tua cabeça. O sorriso quase infantil e as gargalhadas viciantes. Os teus jeitos e maneiras. Tão teus. Tão teus. Os teus monólogos em tudo o que fazes e desesperos entre roupa confusa. Os teus vícios. Café, café, café e cigarros. Ele. E tu. Fotografia (digital) a preto e branco, para me contrariar.
Enfim, pessoa. São outras formas de dizer que gosto de ti. "Claro".

8 Dezembro 2007 : 22.52 (no teu quarto)