quinta-feira, 28 de maio de 2015

indicações

ao fundo há a ponte
e o rio debaixo dela
e o carrinho reluzente
a andar por cima dela
só depois o casario
a descer a encosta em avalanche
e os prédio
semeados pelo caos
e a brotarem como dentes   diamantes
e por cima uma neblina
a ascender em poeira poluente
e umas gruas insinuadas
e as antenas
nada de gente
só os telhados
com as chaminés em erecção
e todas as janelas a olharem para o chão
nada mais alto
só a copa das árvores
mais ousadas
as mais atrevidas
em rebelião com as altas fachadas
monumentais guardiães
de estórias e histórias
das camas mal feitas
as mal amadas
próximas demais
demasiado usuais
quentes, infernais
até repelir o abraço
o mais sincero
o único que aquece mais que o calor
o verdadeiro reagente
para a ilusão
ou o amor.

28 Maio 2015 : 20.47

domingo, 3 de maio de 2015

há um muro por detrás da pele, que teima em espessar ao mínimo golpe. os meus órgãos reorganizam-se, condicionados a um espaço onde só cabe nevoeiro, que nem chuva sabe ser. mas quem é que decidiu automatizar-me assim? que deus, por mais cruel, não me soube dar outra voz aos olhos para que a explosão seja para fora? quanta ausência na vontade e quanta vontade de me ausentar. de que me servem as viagens para dentro de mim se tudo o que encontro são pinhais cerrados a condensar partículas de palavras que me impedi de dizer?

envelheci não sei bem quando e o Tempo perdeu a noção que se rege pelos mesmos segundos de antes. acelerou e não tenho onde apresentar uma reclamação por escrito. ninguém me avisou que as metamorfoses não são só visíveis e que as impurezas que temos crescem em aguçados cristais por fora da pele e impedem o abraço demorado.
como odeio estes dias em que não escolho estar sozinho e tudo o que tenho é uma viagem pela frente rumo ao destino que nunca escolhi.

3 Maio 2015 : 21.07