terça-feira, 30 de julho de 2013

Se a vontade vier
ou se a vontade ficar
ou se a vontade quiser se deixar apanhar
faço dela mulher
ou homem pr'amar
sem pensar no Futuro
(prometo que juro)
e deixo-m'estar.
30 Julho 2013 : 18.36

segunda-feira, 29 de julho de 2013

M.

Fizeste do teu corpo o abrigo para dois e com as tuas mãos fizeste de nós duas casas, mesmo a saber que o tecto não seria para sempre o teu. Deste-me o teu espírito e prendeste-me o coração na garganta. Como o teu, que é dos dois. Cristalizaste nos olhos o tempo de quando ainda tinhamos tempo para crescer. Devagar. E entrançavas estórias e cantigas nos cabelos, a sussurar-me "dorme bem" para que os sonhos fossem melhores.
Tenho-te no sangue a definir o que sou e vivo para te construir um palácio de madrepérolas. Para seres Rainha, a minha e para mim. Todos os teus nomes merecem maiúsculas: Maria, Mulher, Mãe. Assumimos o compromisso, bem antes de nascer, de sermos um do outro para sempre. E este sempre é imortal.
Tenho tantas saudades tuas, Mãe, e de ser menino para me guardares nos teus braços e dizeres que a luz não tarda a voltar ou que a febre já está a descer. Educaste-me para ser um guerreiro, mas nas mãos nunca me deixaste uma arma: só Mar e outra forma de chorar.
Feliz aniversário, Mãe.
29 Julho 2013 : 01.04

domingo, 21 de julho de 2013

Desenharam-te um corvo no peito
logo à nascença
para que fosse mais fácil para mim
abraçar-te
e ser teu

tatuaram-lhe nos olhos
as estrelas do guerreiro
para que fosse mais fácil para mim
encontrar-te
porque és meu

a mim deram-me uma coroa
cravejada de segredos
para que nunca fosse fácil para mim
amar-te
e crescer

mas moldaram-me o corpo
com gesso e água do mar
para que fosse mais fácil para mim
encaixar-te
e perceber.


21 Julho 2013 : 19.19

terça-feira, 16 de julho de 2013

Isto não é hip-hop.

Ainda não percebi se são os dias que estão a mais ou se sou eu que estou a mais nos dias. Sinto-me venenoso, peganhento e, lamento, não é do suor. Antes fosse tão simples de limpar. Parece que aparece por dentro e fica aí mesmo, lá dentro, lá no fundo, à espera da oportunidade para me cobrir e deformar, mesmo que aparência até melhore, mesmo que até pareça brilhar. No fundo, em tudo o que toco, parece escurecer, putrificar, mais dia menos dia, noite após a outra. Mal me entusiasmo e acredito, começa tudo a definhar. Pode ser gente, ou projecto, ou vontade para mim mesmo. Não adianta o investimento. E já nem se trata de preguiça, nem de pouco interesse. É defeito-feitio ou um feitio com defeito. Vou agora culpar quem? A mãe ou o pai ou o mundo que me criou? Se tudo aquilo que eu sou não encontro reflexo em nada nem ninguém. Foi algum deus que quis que fosse assim? Mas que porra de religião é esta? Merda de impaciência! Correcção de cicatrizes, querer ter pernas quando nunca as tive. E no fim de tudo é perceber, com uma náusea impiedosa, que tudo não passa de crescer para além de querer.
16 Julho 2013 : 16.23

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Para sempre.

Amo-te para sempre, como se sempre fosse suficiente para te provar o quanto fui teu e te queria ter de volta. Para sermos crianças de novo, crescer de novo, tudo outra vez. Para te segredar ao ouvido o que nunca disse a ninguém e ter-te a dormir aos meus pés para me sentir mais seguro. Já nem sei onde estás. Prometi cuidar de ti, ensinar-te e ver-te crescer, envelhecer. Perdoa-me todo o tempo que não dormi contigo e te ajudei. Perdoa-me não te ter mimado quando mais quiseste. Perdoa-me todos os dias que não te disse o quanto és ainda especial para mim. Todas as noites que não te dei um beijo antes de adormecermos.
Não te consigo trazer de volta, mas prometo que vamos estar juntos para sermos um só. Amo-te para sempre, Beni, como se sempre fosse o suficente para não ter saudades tuas todos os dias.
9 Julho 2013 : 00.50

Fisiologia do dia.

Os dias, eles mesmos, são igualmente fisiológicos. Temos os mais solarengos, como um intestino a desabrochar toda a sua flora após uma maleita; temos os mais chuvosos, como os congestionamentos e lágrimas alérgicas a inflamar e a persistir; os enfadonhos, como as azias que já são moínhas crónicas que nem os sais de frutos resolvem. Em tudo isto há uma ligação biológica entre nós e eles, os dias, mesmo que a resposta, de qualquer uma das partes, não seja a mais adequada. Da mesma forma como estar feliz não me traz o calor para sair de casa, o calor também me derrete a vontade e as emoções. Fica tudo chato e aborrecido, demasiado brilhante para tentar perceber o que é, e em vez da azia tenho uma úlcera que já me fez uma perfuração no estômago.
 
8 Julho 2013 : 16.57

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Falta um mês.

1
Se ao menos soubesses que continuo a contar o tempo em cigarros.

 
2
Beliscões. As vontades deixaram de ser pontadas na barriga e passaram a ser beliscões. Falta agora a Vontade de virar tudo de vez.

 
3
Enferrugei a âncora com todas as palavras que engoli com sal a mais. Agora nem sobe, nem desce. Serve apenas para me inclinar o barco para que se note o castigo.


4
As amputações dos dedos, mesmo que lentas, dão força às penas para que cresçam em metástases pelos braços.

5
O calor do sul mais a Sul faz-me dores nas costas.

6
A fraqueza mede-se no brilho que dá cor aos nossos hematomas. E é esse sangue que nos coagula a Vontade.

 
7
O dia nasce na arrogância de que é possível renascer, por mais vezes que o tenha feito antes de nós. Envelhece-nos e escurece-nos para que o julgamento seja feito sem dúvidas e com uma vitória única. Uma sentença apenas. Como um vómito, que de incontrolável faz do desconforto um alívio para um amanhecer melhor.
 
8
As encostas mudam a forma, à medida que os quilómetros passam pela janela, mas mantêm uma humidade constantemente verde.
 
9
Reus. M'encantas.
 
10
Volver a ti, mi madre, que me calientas el Corazón.
 
11
Deixei a pele absorver do sol salgado o segredo que me sara as feridas assim que ele se põe.
 
12
Hoje conheci um marinheiro
que guarda no corpo as marcas de todos os portos e praias
e na boca
os segredos para uma promessa melhor.
Mas o amor só o tem ao Mar.

13
O meu tempo é maior no lugar que sou eu. É como se escondesse outro mundo debaixo das pálpebras, para trás do ponto de fuga à minha frente.

14
Descobri o lugar, bem acima do mar, onde os ruídos carregam memórias de sal. E ardem ao entrar, como se curassem os incontáveis cortes das folhas de papel.

 
15
A despedida a atar-me os pés e a garganta.
 
16
Formiguinha trepadeira
Trabalhas a vida inteira
Se saires do teu carreiro
Tens um inferno verdadeiro.

Trabalha então, minh'amiguinha
Esquece a mania de ser diferente
Já falta pouco p'ra seres tolinha
P'ra já és parva como toda a gente.
 
17
Ridiculamente igual.

18
Igualmente ridículo.
 
19
Hoje liguei-te para te mostrar os olhos. Quis voltar para ti, para dentro de ti, que és mais que a casa. E na tua voz senti os quilómetros da saudade da altura em que tinha altura para me esconder atrás de ti.
 
20
Continuo a guardar-te as tuas conchas favoritas, Mãe, para que faças armaduras reluzentes a protegerem a mais maravilhosa pérola.
 
21
Hoje és a única estrela no céu. E eu sou o espelho a aprender a brilhar como tu.
 
22
Não podes ir sem mim. Como se fosse possível isso ter que acontecer antes do tempo. És uma princesa armada em guerreira e por isso não duvido da tua força corajosa, por mais estranho que esteja o teu reino. Ainda és tu. E ainda é agora.
 
23
Nem todos os dias são de escrever.
 
24
Alfama cantadeira

Traz-me espetadas e vinho à mesa
Senta as guitarras na cadeira
Faz do fado uma brincadeira
Que me serves p'ra sobremesa.
 
25
A greve está grave. E era grave se não houvesse greve.
 
26
Fechar os olhos como os patos, debaixo para cima, para que o céu seja a última coisa que veja.
 
27
O sangue, o meu, a aflorar-me à pele e a saber-me na boca, numa partilha solarenga, quase abafada, onde o amor genuíno somos nós.
 
28
Despedi-me de ti como se fosse para sempre.
 
29
A mudança a ser mais força que vontade. Até já tenho derrames pelo corpo a disseminar tromboses paralisantes. Quero ou tenho? Ou tenho que querer?

30
Um. Dois. Três.
Que a mudança seja de vez.
 
31
Festejar o aniversário é o mesmo que festejar o tempo que já não temos. Será assim tão digno de festa quando temos menos um ano de vida? É quase contranatura admitir que a vida se constrói ao contrário, mas a verdade é que, enquanto o corpo definha (bem como tudo o que é físico) durante a sua existência, o que somos tem que ser sempre mais. Um crescer metafísico que depende, apesar de tudo, do exoesqueleto que, também, somos nós. É ser de dentro para fora e encolher em simultâneo. E não há paradoxo mais-que-perfeito que este.
Vinte-e-cinco anos e umas horas é o tempo que tive para ser maior, no plano físico e no outro. E é infeliz a ideia de, pelo menos num, já ter falhado.



3 Junho 2013 a 3 Julho 2013

 

/Falta um mês.

31
Festejar o aniversário é o mesmo que festejar o tempo que já não temos. Será assim tão digno de festa quando temos menos um ano de vida? É quase contranatura admitir que a vida se constrói ao contrário, mas a verdade é que, enquanto o corpo definha (bem como tudo o que é físico) durante a sua existência, o que somos tem que ser sempre mais. Um crescer metafísico que depende, apesar de tudo, do exoesqueleto que, também, somos nós. É ser de dentro para fora e encolher em simultâneo. E não há paradoxo mais-que-perfeito que este.
Vinte-e-cinco anos e umas horas é o tempo que tive para ser maior, no plano físico e no outro. E é infeliz a ideia de, pelo menos num, já ter falhado.

3 Julho 2013 : 21.14

/Falta um mês.

30
Um. Dois. Três.
Que a mudança seja de vez.

2 Julho 2013 : 23.57

/Falta um mês.

29
A mudança a ser mais força que vontade. Até já tenho derrames pelo corpo a disseminar tromboses paralisantes. Quero ou tenho? Ou tenho que querer?
2 Julho 2013 : 01.35

/Falta um mês.

28
Despedi-me de ti como se fosse para sempre.

30 Junho 2013 : 20.45

/Falta um mês.

27
O sangue, o meu, a aflorar-me à pele e a saber-me na boca, numa partilha solarenga, quase abafada, onde o amor genuíno somos nós.
 
30 Junho 2013 : 00.00

/Falta um mês.

26
Fechar os olhos como os patos, debaixo para cima, para que o céu seja a última coisa que veja.
 

28 Junho 2013 : 17.26

/Falta um mês.

25

A greve está grave. E era grave se não houvesse greve.
28 Junho 2013 : 16.56

/Falta um mês.

24
Alfama cantadeira

Traz-me espetadas e vinho à mesa
Senta as guitarras na cadeira
Faz do fado uma brincadeira
Que me serves para sobremesa.


2 Julho 2013 : 01.00
 

/Falta um mês.

23
Nem todos os dias são e escrever.
 

2 Julho 2013 : 01.01

/Falta um mês.

22
Não podes ir sem mim. Como se fosse possível isso ter que acontecer antes do tempo. És uma princesa armada em guerreira e por isso não duvido da tua força corajosa, por mais estranho que esteja o teu reino. Ainda és tu. E ainda é agora.
2 Julho 2013 : 01.28

/Falta um mês.

21
Hoje és a única estrela no céu. E eu sou o espelho a aprender a brilhar como tu.
 

23 Junho 2013 : 22.20

/Falta um mês.

20
Continuo a guardar.te as tuas conchas favortias, Mãe, para que faças armaduras reluzentes a protegerem a mais maravilhosa pérola.

 18 Junho 2013 : 01.07

/Falta um mês.

19
Hoje liguei-te para te mostras os olhos. Quis voltar para ti, para dentro de ti, que és a mais que a casa. E na tua voz senti os quilómetros da saudade da altura em que tinha altura para me esconder atrás de ti.
 
22 Junho 2013 : 02.16

/Falta um mês.

17
Ridiculamente igual.

18
Igualmente ridículo.

 28 Junho 2013 : 16.49

/Falta um mês.

16
Formiguinha trepadeira
Trabalhas a vida inteira
Se saires do teu carreiro
Tens um inferno verdadeiro.

Trabalha então
Minh'amiguinha
Esquece a mania de ser diferente
Já falta pouco p'ra seres tolinha
P'ra já és parva como toda a gente.
 
22 Junho 2013 : 02.21

/Falta um mês.

15
A despedida a atar-me os pés e a garganta.

20 Junho 2013 : 13.26

/Falta um mês.

14
Descobri o lugar, bem acima do mar, onde os ruídos carregam memórias de sal. E ardem ao entrar, como se curassem os incontáveis cortes das folhas de papel.
20 Junho 2013 : 20.06

/Falta um mês.

13

O meu tempo é maior no lugar que sou eu. É como se escondesse outro mundo debaixo das pálpebras, para trás do ponto de fuga à minha frente.

20 Junho 2013 : 16.35