À noite, as borboletas sofrem outra mutação, uma metamorfose atrasada, como os dentos do siso, apenas uma opção genética mal explicada. Escurecem a pele e deixam-na secar. E tatuam nas asas mensagens microscopicamente indecifráveis, que apenas os da sua espécie, também metamorfoseados, compreendem em total sintonia.
Parecem folhas molhadas na chuva, solitárias, como predadores à espera do momento ideal. E atacam. Absorvem toda a luminosidade possível para contrariar a sua natureza obscura.
São vigilantes de uma noite melhor. Tecem, junto com as aranhas, enredos e armadilhas, para que a sua presença seja mais do que uma gota de luz incandescente. São viciantes pelo veneno que segregam. Acidificam-nos os fluídos que expandem no momento da sublimação. Arrancam-nos os sentidos e apuram-nos os instintos.
As borboletas são caçadoras de uma verdade mais pura, e mentem em cada vôo silencioso.
5 Dezembro 09 : 07.58