quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Há segredos que temos até de nós próprios. Segredos-segredo, o maior de todos. E esconde-se atrás do medo, que vive encostado às nossas costas. São portanto matérias diferentes, com iguais pesos incisivos e agudos. Serve-se O segredo do medo por ser medricas, que tem medo até de se mostrar. São poucos os de nós que o viram. E que visão, que grande delírio, tão mais real que a sobriedade! É perceber como somos para lá dos ossos e órgãos e sangue encharcado de moléculas a estruturar-nos. É saber mais, para além do que somos feitos: é saber o que somos e como é que funcionam as vontades que movem toda esta fortaleza de pele e carne viva, de dentro para fora e vice-versa. De que são feitas essas vontades para além da corrente eléctrica a violar-nos os neurónios? Não seriamos melhores eus se soubéssemos controlar toda a combustão que nos anima ou nos tira o brilho? E não se trata de aprender ou modelar ou alistarmo-nos a um qualquer exército global, com normas e formas e leis anti-imorais. Que conceitos podem explicar tudo aquilo que somos se já existiam antes nós?
O segredo é a receita, em precisão microscópica, dos nossos componentes mais básicos: pedras e ventos lunares, água e Mar, estrelas em pó e quase-três buracos-negros espremidos, para cortar o doce. É saber quanto deles é que espremeram em nós. Quanto de nós é vazio - só isso. O Inexplorável, porque não há nada para além do limite. O sacro-limite, o supra-super-ego a limitar a vontade de ser mais, de ser tanto até transbordar e encher todas essas partículas de buracos que flutuam em nós. Esta seria a última revolução para sermos todos unicamente iguais: o total-preenchimento, mesmo que os moldes possam ter um ou outro defeito a diferenciar-nos. Seria melhor um mundo todo da mesma cor com o mesmo ruído a fazer-se língua? É este encurtamento do abraço genético a verdadeira evolução? Sermos unos, no único sentido da palavra, é a outra vida ou o fim de todas?
Durante todo o Tempo tivemo-los a menos de um centímetro de nós com o nosso manual de instruções ainda por abrir. O segredo e o medo sempre viveram connosco na sua relação de comensalismo. São os nossos parasitas mais inaniquiláveis. Mas também eles são o que somos. E nós o reflexo dos dois. Vivemos os três numa harmonia descompensada. Seria assim tão mais fácil se fossemos corajosos o suficiente para enfrentarmos o nosso medo até descobrirmos para quê que servimos? Seriamos mais felizes por saber verdadeiramente o nosso tamanho, apesar do medo?
Revela-te lá um bocadinho, ó habitante da outra face de mim. Deixa-me ver, pelo menos, a forma dos teus olhos, para que no meu olhar haja mais certezas sobre esta volição, em consecutivas explosões, a abalar toda a caixa que sou. Que seja esse o grande desafio, aceito-o, mas muda a maré da Verdade para que tenha mais força. De que me serve a âncora, senão de estorvo, se onde estou é um lugar estagnado?
27 Agosto 2014 : 18.58

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