quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

o teu gosto sobe à boca
com atraso
e prolonga-se
um fiozinho a azedo - muito suave
a saber a silêncio a tempo demais
a ferro oxidado a escorrer-me pelos dentes
ao corpo ainda quente
e ao calor por dentro do corpo

de que foram feitos os meus olhos
e o meu coração
para que as mãos só soubessem ser tuas
por mais certezas de que o mundo andava
ao contrário de ti e de mim
apesar do decalque de mil e uma noites
um corpo com quatro pernas em abraços
e mais nada
só véus e rendas grossas
e fotografias nas paredes de sempre
paredes brutas
persistentes
silenciadoras
e a serem a casa que eu queria

fui feito do ruído de quilómetros
do asfalto das viagens
deliciosamente intermináveis
onde a robustez eras tu
enquanto os meus olhos flutuavam
sob os telhados e o céu e as estrelas sem luar

fui feito de areia a estender-se até ser mar
e um barco às rodas
em desafio pra lá das ondas pra lá das rochas pra lá da verdade
um teatro de sombras que se mostram ao anoitecer
o encontro entre os lábios
o veneno do meu querer.

19 outubro 2016 : 02.01

Sem comentários: