terça-feira, 2 de abril de 2013

Existem pequenas colecções invulgares que nos damos ao capricho de acumular em caixinhas e caixotes desarrumados do dia, como os imperceptíveis buracos na roupa que usamos. Nem percebemos quando é que aconteceu: se foi antes de a vestir de manhã ou se foi um jeito menos jeitoso que a rompeu. Até podia vir já com defeito. Ou foi um bicho qualquer com apetite a mais.
Há quem tenha vergonha e os emende, tapando ou cosendo. Outros tiram proveito dos buracos e modificam toda a peça de roupa. Há quem os use por desleixo, outros pela incapacidade de fazer o que seja, outros por ser moda.
Mas os buracos podem ser mais que um e alargam, alargam demais, e a roupa deixa de ser roupa. Nós passamos a ser a roupa do buraco que fora roupa e nós não servimos para ser roupa de ninguém ou coisa nenhuma. Precisamos de roupa que seja roupa e deixamos que o corpo, o nosso, seja a emenda para os buracos na vida de alguém.
2 Abril 2013 : 04.03

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