sábado, 30 de março de 2013

Alina, a francesa.

Apareceu de repente, calada. Descalçou as sandálias de pele escura e escondeu os pés na relva. A saia destapava-lhe os tornozelos, de vez enquando, e tinha como padrão todas as flores que ainda não floriram nesta altura do ano. Aconchegou-se no xaile vermelho e tirou um cigarro da bolsa. Arranjou uma madeixa acobreada do cabelo, que estava desalinhadamente apanhado, a lembrar um bouquet florido a condizer com a saia. Acendeu o cigarro e deixou que o Tejo lhe enchesse os olhos. E tudo se calou. Nem pássaros, nem cães, nem árvores ou gente se mexeu. Deixava escapar o fumo pela boca como se nunca tivesse vontade de o aguentar. E os olhos dela enchiam-se cada vez mais de água. No fim do cigarro, pousou a bolsa no chão e arrumou as sandálias dentro dela. Uma brisa atreveu-se a atravessá-la e foi quando ela olhou para mim e também ela me atravessou. Sorriu por um segundo e voltou-se de costas de novo. Avançou para o muro que cercava o jardim e subiu-o. Abriu os braços como se abraçasse mais do que podia. Saltou. E tudo ganhou vida outra vez.
30 Março 2013 : 21.09

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