quarta-feira, 14 de junho de 2017

da sublimação do ideal

A APRECIAÇÃO DO CORPO DIVIDE-SE EM QUATRO PARTES, NEM SEMPRE COM A SEGUINTE ORDEM DE ENCANTO, MAS QUASE SEMPRE POR ESTA ORDEM DE APROXIMAÇÃO:



1. as pestanas as sobrancelhas o olhar
o olho é um órgão capaz de nos enfiar na cabeça as maiores maravilhas por maior que seja o espectro da sua podridão-esplendor mas de nada lhe serve se não aliciar a maravilha que é olhar de frente a direito a enfiar-se até ao fundo de outra cabeça que não a nossa para repararmos que o olho é enfeitado com delicados cílios a estenderem-se e a arrebitar (não em demasia nem demasiado curtos porque fica feio) a apontar os seus fios ebânicos para a moldura sobrancelhal a definir num rasgo negro uma sombra opaca que sublinha ao contrário a intenção do olhar absoluto a entrar em ti e a esclarecer.

2. a voz os lábios o sotaque
a garganta é um órgão também capaz de muitas maravilhas  engolir deglutir engasgar entalar asfixiar vomitar infectar falar cantar encantar enganar imitar calar emudecer apodrecer  que independentemente do seu tamanho (nem muito estreitas nem muito curtas mas sem grandes saliências) é capaz de nos sintonizar na sua frequência e fazer do seu timbre todos os arrepios nas coxas e costas e cotovelos para que se da boca florir uns lábios mais cheios mais sumarentos mais que a convidar a decorar todas as curvas que faz para modelar as palavras num sopro mais ou menos carregado de identidade original a pronúncia do primeiro choro a extensão milenar da homofonia.

3. as pernas as mãos a robustez
os membros inferiores superiores e suas extremidades (os pés não contam por estarem demasiado afastados da ponta superior do corpo e por conseguinte terem menor beleza apesar de aguentarem com o corpo todo ao peito coitados) são decisivos a marcar qualquer intenção num passo num abraço num murraço num amasso num descompasso num embaraço num espaço qualquer desde que a sua força seja sempre contida sem exageros de nenhum dos extremos e que o impacto da sua robustez seja como maciças erecções adolescentes a contracção em carne viva a ser só o brilho a escorrer nos sudoréticos contornos.

4. a vontade a verdade a liberdade
ao contrário da vontade a verdade deverá ser sempre sempre exposta que tal como a liberdade não deverá ser contida por nenhuma razão apenas a vontade pode ter limites oblíquos máscaras intensificadores que atenuam ou enaltecem a direcção que será suficientemente simbiótica até ao automatismo improvisado enquanto que as outras duas nada têm que ver com início começo partida porque cada uma destas virtudes em uníssono selará o único pacto para o conhecimento transversal do que cada um de nós é individualmente por dentro do nosso corpo através da sua superfície e mesmo em tudo o que projectados para fora dele.

13 Junho 2017 : 19.48 

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