Mais uma vez. Corri como pude para o quarto de banho. As minhas pernas mexiam-se mil vezes mais devagar que as batidas do meu coração nos ouvidos. E as pessoas. Não percebiam o que se estava a passar? Agarravam-me, sussurravam-me, sorriam-me.
Cheguei ao lavatório. Vomitei. Gritei aquela merda toda para fora. O álcool que me violava a vontade. As drogas que me deixavam tão leve e confiante. Lambi os lábios e eram tão doces. Senti um braço a puxar-me e não percebi a sequência que se passou a seguir. Uma língua lambia-me os restos do vómito ainda nos dentes e eu nem percebi quem era. Um sorriso.
Olhei-me ao espelho e vi-me enevoado entre as lágrimas do esforço ao vomitar. Bebi um pouco de água e molhei a cara. Estava pronto para preencher os meus poros de música e suor. Saí triunfante e já encarava melhor os apelos: reagia às mãos que me tocavam; respondia aos sussurros; encerrava os sorrisos num beijo. Toda a gente o fazia. Toda a gente era uma só. Por isso dancei e gritei de euforia e desejei nunca mais parar de rodar.
Silêncio. Só uns olhos verdes e um beijo escuro e doce. Desta vez não era a minha boca que tinha esse sabor. Senti o meu corpo parar e só ouvia o barulho das nossas línguas. Aquele beijo. Tão suave e cuidadoso, como se fosse um crime. E não sei se foi de mim, mas senti-o tão lentamente. Lento, lento, lento. "Sentes-te melhor?". Aquela pergunta pareceu-me absurda, mas gostei de a ouvir. Acenei com a cabeça porque não conseguia articular as palavras na boca. As misturas deixam este efeito em mim.
Na minha cabeça começaram-se a fundir as texturas e as cores de um mundo escondido, clandestino. A sua promiscuidade escarnada agoniou-me. Senti-me a afundar e creio que os meus olhos escureceram. Senti um suor gelado que me preocupou. Vomitei. Estava mais limpo agora e com medo de outra noite assim. No entanto, prometi-me que voltaria a encontrar aqueles olhos verdes.
20 Setembro 2006 : 4.16