terça-feira, 5 de setembro de 2006

Esquizofrenia.


As danças esquisistas de voltas e mais voltas. Os olhares agressivos de tanto vício que provocam. Os reflexos fictícios num espelho mal quebrado. Os silêncios num pânico mal resolvido. Um copo de sangue prestes a ser saboreado. O sabor a um Porto delicioso junto a cabeceira da cama. Um corpo imaginado que se constrói ao fechar dos olhos. O toque arrependido das minhas unhas roídas. A transformação da tua cara numa poça de cartas rasgadas. Uma caixa aberta sem segredos a revelar. A viagem para longe. A vontade de não ficar. Um cigarro oferecido num sacrifício divinal. O trago de uma lágrima azedada pelo tempo. O enjoo das noites sem estrada nos pés. O fumo da manhã que me tapa a casa. As fugas que deixam saudade. A promessa do regresso. O desejo de cumprir. Os perfumes nos cabelos. A luz que me lava os pés descalços. As portas fechadas por palavras de ofensa. O encontro dos lábios no escuro. O álcool nos teus dentes. As nossas roupas com cheiros iguais. O coração que nem sabe o que pensa. A raiva num grito que inunda o meu espaço. A parede onde te encostas. A ausência de protecção no teu abraço. Os sussuros da música nos ouvidos. Um táxi à procura de lugar. Um sorriso apreciado. Um elogio que te dou. Um novo olhar para a Lua. As gargalhas nas cambalhotas na areia. O cheiro da comida que preparas. Um banho frio pela manhã. O meu olhar nos dias de calor. As fotografias das recordações reais. As canetas que perdem a tinta. O convite para entrares. O pedido para existires. O encanto de pintar os lábios. A desilusão de quem não deixa recados. O sinal de saída quando não se quer. O teu jeito de andar. O tropeçar nas escadas. O toque das pedras da rua. O vento quente dos eucaliptos. As sombras de um sonho escondido. As canções que canto sozinho. Uma pancada no peito. A perda dos sentidos. Os cortes nos braços para saber que existo. Uma venda na cara. O desespero do menino perdido. A tua garganta arranhada. A minha mão que se enlaça. O início da sedução. O vinho que se acaba. O texto confuso. As linhas que apagamos quando não sabemos escrever. O fim da alucinação.


5 Setembro 2006 : 1.42

7 comentários:

nana disse...

cabe ao sujeito conjugar os verbos para fazer um texto menos substantivo mas com mais substância!
gostei do post!
;)

Anónimo disse...

Perdi-me completamente neste texto... Mas assim de uma maneira brutal. ;x

( só comentei porque choraste :D ) *

Anónimo disse...

adorei os textos!

Rui de Noronha Ozorio disse...

Tantas Personagens criadas e sacudidas num vento que arrasta montanhas... tantos sentidos experimentados em sabores amargos de despedida com sons doces á mistura... borbulhar de sentimentos em guerras eternas com a absurda racionalidade que nos mata... es sem duvida especial, es sem duvida meu irmao, es sem duvida beno...

Anónimo disse...

Cuida de ti.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
nana disse...

obrigada pela visita!
;)