Fechei os ouvidos para te poder sentir quando chegasses, mas os olhos cairam em colapso brutal. Fecharam cansados de imaginar demais.
Ainda me dói o peito dos arranhões que deixaste. E a cabeça arde de tudo aquilo que dissemos. Venenos que nos queimaram por dentro, num turbilhão de luzes incandescentes, em berros de silêncios não explicados. Doeu. Eu sei que doeu.
Deixei-me cair, sem querer, e sonhei com reflexos que não são os teus, em espelhos que quis partir. Arrependo-me e peço-te ajuda para a afastares. Não a deixes ficar, com os seus encantos de opióides ácidos que me corroem a vontade. Chama-me pelo lado racional e apaga-me as miragens das pálpebras, que se escondem quando acordo. Não a quero por perto. Não quero.
Já nem sinto as mesmas saudades. Quero outra vez os comboios e as viagens sem regresso, as praias a rebentar de azul e os quartos escuros perfurados pela luz dos candeeiros. Quero repetir, mas há cansaço a mais em mim. E a vontade está inerte, numa ataraxia mentirosa. Sintomas do início.
Abana-me e desenha-me de novo. Quero-te sentir o cheiro e mexer-te no cabelo molhado. Quero-me afundar nos teus olhos e encostar no teu abraço. Deixa-me dormir mais uma vez contigo. E outra e outra vez, numa reconquista ainda por começar.
Não repitas os momentos azedos, nem te cales em dúvidas que não são verdade. Abre-me os olhos, porque da próxima vez, o silêncio pode fechá-los de vez.
30 Abril 2007 : 04.26