Fim. Mais uma vez. Prometo tentar não me imaginar mais na tua cama, numa preguiça exagerada como quem pede carícias ao amanhecer antecipado. Prometo tentar não me entregar de novo nos teus braços, parapeito da minha cabeça, numa janela para o ritmo acelerado do teu coração. Prometo tentar não te seguir o rasto de perfume entre lágrimas de chuva. Prometo tentar não cuidar mais de ti, como um pai improvisado na pele de namorado. Prometo tentar não me afogar mais nas tintas dos teus desenhos. Prometo tentar não te guardar mais o olhar em fotografias espontâneas. Prometo tentar não encher o teu quarto de raios iluminados pelo fumo de um cigarro a dois. Prometo não tentar mais.
Gritei-te insultos em resposta das incopatibilidades e deixei-te ali sozinho, como eu. Não tive mais vontade de te olhar nos olhos verdes porque as mentiras eram mais que as verdades. E não chorei nessa noite. "Cresce" disseste-me uma vez, como contra-argumento sem sentido de resposta possivel, e agora penso que és tu que precisas desse meu conselho. A idade já não conta hoje em dia, entre tanta gente desprovida de qualquer capacidade de amar.
Desta vez não tomo qualquer tipo de narcótico para me ajudar a dissolver as memórias. Espero que ao escrever consiga dividir o peso no peito e que o teu sabor desapareça da minha boca. Também sinto o salgado agora e sei que os olhos estão molhados. Acontecimentos inevitáveis de quem se separa.
Acabei por não te encontrar no fim do labirinto. As paredes eram em forma de dúvidas cortantes que surgiam sempre que me tentavas aproximar de ti. No entanto, senti os momentos de entrega e escrevi-os no mapa que fui desenhando. Sei que os vou guardar como lembrança de momentos felizes.
Caímos, os dois, e só temos que aguardar pela força que nos vai levantar. Quando chegar o momento de nos partilharmos com alguém vamos ser memórias guardadas num sitio especial. Pelo menos é o que me cantam aos ouvidos, numa melodia vibrante em forma de piano. Espero que seja verdadeiro o prenúncio de um recomeço de dia em que o sol será de novo bem-vindo. É engraçado que nunca aprendemos com as experiências anteriores relativas à partilha de sentimentos.
Gostei de ti e ainda gosto, é o que me prova agora o que digo a mim próprio, mas sei que se houvesse uma outra oportunidade só servia mais uma vez para adiar o fim. Por isso espero que, pelo menos, os nossos olhos se voltem a cruzar por aí e não se desviem. Que haja um cumprimento sentido e uma vontade de ficar presente na vida um do outro.
Até lá despeço-me de vez: adeus.
25 Junho 2007 : 01.33