Relíquias de ouro incandescente que gravam marcas nos lábios. A pele estala a cada raio de sol e os olhos verdes de sono não me deixam ver as minhas cores. Uma noite após a anterior, num eco que se repete nas circunvoluções da minha cabeça. Os arranhões de todas as mãos.
Deito-me na cama, uma qualquer, e deixo-me arrefecer ao ritmo dos lençóis. O meu corpo funde-se com o colchão numa simbiose quase metamórfica. Deixo-me ser levado pelos olhos de alguém, numa entrega apenas aparente onde me arrancam as dores do peito. Movimentos tão vermelhos numa troca de saliva de mil e uma cores, drogas que só eu sei preparar. O sangue borbulha em vodka e outros alcoóis depressores. Não resisto, e sem dar conta tenho um corpo para escravizar à minha vontade.
Uma mão dentro das calças, outra a segurar a cabeça. Mais uma a tocar-me nos lábios e uma língua a descer até ao umbigo. Arrepios em cadeia que me transformam num predador instintivo. Mordo. Sabe bem morder a carne, furá-la com os dentes, saber de que é feito o sangue.
Às vezes ainda há tempo para uma confissão ou duas, num sussuro apertado ao ouvido. Esperança que a noite saiba melhor. Esperança que o dia comece melhor.
O orgasmo. Gritos e contrações de corpos uns contra os outros. O fim e as dores no peito voltam a aparecer.