quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Dúvida ou dívida.

Ferve-me o corpo depois do trabalho. Deixei a terra descansar e preparei a nova seara brilhante, dourada, robusta. Reguei-as com álcool antes da tempestade, que cairá em foma de ervas daninhas e se alastram e me consomem a juventude. A preocupação vem sempre depois, quando os cigarros não inflamam as nossas dúvidas e os olhos, abertos, não me sabem explicar. Nojo.
Tenho medo, foda-se.

23 Agosto 2007 : 05.06

sábado, 18 de agosto de 2007

Diário de uma noite qualquer.


21.34h: O jantar é servido. O roçar dos talhares antes do despejo da comida na boca. Mastigo. Engulo. Digiro.

22.12h: Preparo o banho. Aqueço a água. Dispo. Molho. Lavo. Molho. Seco.

22.19h: Visto um fato de treino. Pés. Pernas. Cabeça. Tronco. Braços. Pés.

22.22h: Passear a cadela e fumar um cigarro. Abrir. Fechar. Descer. Abrir. Encostar. Acender. Fumar. Fumar. Fumar. Apagar. Abrir. Fechar. Subir. Abrir. Fechar.

22.30h: Sento-me ao computador. Deixo-me viciar na vontade de abrir mais uma janela. Clicar. Clicar. Teclar. Esperar. Teclar. Clicar.

23.38h: O telemóvel toca algures no quarto. Mensagem. Pegar. Clicar. Esperar. Ler. Clicar. Pousar.

23.40h: Escolho a roupa. Boxers, meias, t-shirt, calças, casaco, sapatilhas. Visto. Dispo. Visto. Dispo. Visto. Calço.

23.58h: A apresentação da cara é importante. Quarto de banho. Escovar. Pentear. Arranjar.

00.15h: A boleia chegou. Dinheiro, chaves, telemóvel, tabaco, isqueiro. Pegar. Pegar. Pegar. Guardar. Abrir. Fechar. Descer. Abrir. Fechar. Andar. Abrir. Cumprimentar. Fechar. Arrancar.

00.32h: Porto. A cidade que guarda a noite nos passeios. Procurar. Procurar. Procurar. Procurar. Estacionar. Abrir. Fechar. Trancar. Andar.

00.35h: Um café. A música e os cheiros aquecem-me logo à entrada. Entrar. Escolher. Sentar. Conversar. Pedir. Conversar. Esperar. Beber. Acender. Fumar. Conversar.Apagar. Pagar. Sair.

00.53h: Os sítios do costume. As mesmas cores e as mesmas caras. Andar. Entrar. Receber. Cumprimentar. Cumprimentar. Cumprimentar. Encostar. Pedir. Esperar. Pegar. Beber. Acender. Fumar. Apagar. Encostar. Dançar. Conversar. Conversar. Dançar. Dançar. Conversar. Dançar. Pousar. Acender. Fumar. Apagar. Pedir. Esperar. Pegar. Beber. Dançar. Conversar. Cumprimentar. Conversar. Beber. Acender. Fumar. Conversar. Beber. Apagar.

02.46h: Os pulmões saturam-se de fumo e cheiros. Os olhos ardem. Sentar. Encostar. Descansar. Conversar. Levantar. Dançar.

03.45h: Seguimos o exodo e mudamos de sítio. Nómadas nocturnos que seguem em passo de procissão até ao próximo santuário. Esperar. Pagar. Entregar. Sair. Andar. Andar. Entrar. Receber. Cumprimentar.

04.15h: Nova música. Outras caras. Corpos. Cadáveres. Acender. Fumar. Apagar. Pedir. Esperar. Beber. Acender. Fumar. Apagar. Dançar. Pedir. Esperar. Beber. Dançar. Acender. Fumar. Dançar. Apagar. Conversar.

05.42h: O corpo queixa-se. Os olhos fartam-se de ver. A boca seca. O dinheiro a acabar. O tabaco já acabado. Esperar. Pagar. Cravar. Agradecer. Acender. Fumar. Entregar. Sair. Fumar. Andar. Andar. Fumar. Andar. Abrir. Apagar. Entrar. Fechar. Arrancar.

05.58h: O caminho de volta. O alcatrão a sustentar o peso da velocidade do carro. As curvas e as luzes da cidade ainda a dormir. Arrancar. Acelerar. Conduzir. Conduzir. Reduzir. Parar. Esperar. Esperar. Arrancar. Acelerar. Virar. Conduzir. Reduzir. Virar. Parar. Esperar. Arrancar. Acelerar. Conduzir. Conduzir. Acelerar. Conduzir. Conduzir. Reduzir. Virar. Parar. Despedir. Agradecer. Abrir. Fechar. Despedir.

06.16h: A casa. Abrir. Fechar. Subir. Abrir. Fechar. Acender. Lavar. Secar. Apagar. Abrir. Escolher. Pegar. Fechar. Comer. Beber.

06.39h: A cama. Despir. Abrir. Deitar. Suspirar. Cobrir. Adormecer.

18 Agosto 2007 : 07.18

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Confissão.


Relíquias de ouro incandescente que gravam marcas nos lábios. A pele estala a cada raio de sol e os olhos verdes de sono não me deixam ver as minhas cores. Uma noite após a anterior, num eco que se repete nas circunvoluções da minha cabeça. Os arranhões de todas as mãos.
Deito-me na cama, uma qualquer, e deixo-me arrefecer ao ritmo dos lençóis. O meu corpo funde-se com o colchão numa simbiose quase metamórfica. Deixo-me ser levado pelos olhos de alguém, numa entrega apenas aparente onde me arrancam as dores do peito. Movimentos tão vermelhos numa troca de saliva de mil e uma cores, drogas que só eu sei preparar. O sangue borbulha em vodka e outros alcoóis depressores. Não resisto, e sem dar conta tenho um corpo para escravizar à minha vontade.
Uma mão dentro das calças, outra a segurar a cabeça. Mais uma a tocar-me nos lábios e uma língua a descer até ao umbigo. Arrepios em cadeia que me transformam num predador instintivo. Mordo. Sabe bem morder a carne, furá-la com os dentes, saber de que é feito o sangue.
Às vezes ainda há tempo para uma confissão ou duas, num sussuro apertado ao ouvido. Esperança que a noite saiba melhor. Esperança que o dia comece melhor.
O orgasmo. Gritos e contrações de corpos uns contra os outros. O fim e as dores no peito voltam a aparecer.

6 Agosto 2007 : 19.20

sábado, 4 de agosto de 2007

R.E.S.S.A.C.A.

Ressaca é o resultado de...


beber muito
aceitar bebidas
fumar
fumar
fumar outra vez
dançar ao ritmo da música
dançar fora do ritmo
berrar
rir
cair algumas vezes
dar uma queca no quarto de banho do bar
vomitar a seguir
adormecer no chão do quarto de banho de casa.