quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Não.

"esse é o teu caozinho?"
foi assim que ela me rebentou nos olhos
com a cara a arder de inocência

foi num dia de granizo que foi
vomitada numa paragem de autocarro
manhã demasiado peganhenta
para ser real
ou natural
a caramelizar-lhe toda a pupila
dilatada
a comprometer-lhe toda a promessa
a verdadeira
de ser dona de toda a terra
e fazer da trança do cabelo
a muralha
a separação suprafísica
o grito em hipérbole
entre a água e o Mar

e não havia nenhum sinal
por mais lívido que fosse
da certeza do que ela já era

fez da calçada molhada
os chinelos dos seu pés
e desafiou o vento
feito céu aos trambolhões
pelos becos
ruelas
a procurar por uma fuga por onde entrar
e contaminar a pureza do calor
fazer danças
mais-que-exóticas
com o fogo na chama de uma lareira
gelada de pedras

miúda-catraia
sem alcateia ou manada
mas a rainha do que vier depois

e a verdade
antes de qualquer outra coisa
é que o companheiro era só isso
um cão cavalheiro
que é mais que fiel
a escoltar-me
juntinho às sapatilhas
até ver a minha porta a apagar-me do escuro
para a próxima convido-o a entrar 
7 Janeiro 2014 : 20.39

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