terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Manifesto da saudade

fundam os punhos,
ó povo do mar e do sal,
e hasteiem-nos para o céu

edifiquem-se verticalmente
e sejam absolutos aos olhos das outras direcções
partilhem o vosso grito
gritem-no
ou semeiem a terra
com os segredos que vos infestam as unhas
e alimenta a virtude que floresce
no alto das colinas e planaltos
a enlouquecê-la
até vir rebentar
cá embaixo
num salto sem dúvidas
em gemidos e fluídos sexuais
orgásmicas carícias
que nos alouram a pele
e a envenena
deixando-a mais doce no sabor de quem a prova

façam da vossa língua
de sangue e lama
e vento
a costa do outro mundo
a única e verdadeira
alma-mater
a unir-nos com um laço apenas
de irmandade
para além serem as mesmas
as veias que nos enraízam
e não haverá mais ferrugem
da âncora nos pés

prometam para sempre
que ficarão sozinhos
isolados até de vós mesmos
abandonem-se
no segundo milimétrico
em que começa o crepúsculo
recebam a dádiva de serem quem são
protejam a vontade da vida
a maior de todas

e que vos arranquem o coração se falharem
que não faz sentido ter outros ruídos no peito
se não forem de saudade.

4 Fevereiro 2014 : 01.31

1 comentário:

Jobim disse...

Uma Ode de maravilha.