o som
a dar início à brevidade da despedida
um último beijo pela janela
no esforço do sorriso de quem já tem saudades
e os teus olhos
tão pequeninos como tu
a perceberem que amanhã não me vais ver
que não me vais acordar
nem te vou poder agarrar para dormir mais um bocadinho
só mais um bocadinho
contigo
deixo-te para trás
e assumo o caminho da viagem
a acelerar a velocidade
e todo o comboio desliza
flutua fora do trilho
e das engrenagens saltam faíscas e ruídos
que semeiam a terra
com flores a rebentar de amarelo azul e vermelho
tudo pelo teu nome
e até as montanhas decidem imitar o Mar
um mar verde e húmido
a lembrar-me o teu cabelo quando está comprido demais
e correm os cavalos
e as casas montadas neles
e as fábricas não se mexem por serem teimosas
e pesadas
com altas chaminés preguiçosas
sem um único bocejo fumarento
não há pessoas nem gente
escondem-se à passagem deste comboio fictício
que a maravilha de o ver passar é mais sagrada que as suas crenças
- porque vais tão rápido e desamparado?
iluminou-me o sol
quase quase coberto pela paisagem lá longe
quase quase junto do horizonte
e ficou-se o silêncio
entalado entre a Lua e os pinhais
por não querer falar sobre isso
que é pior do que saber a resposta
é que na extensa horizontalidade da distância
em que os quilómetros são contados em dias
deixo de te ver
a crescer milimetricamente todas as horas
a mudar os dentes
a aprender novas palavras e novos movimentos
mas nunca,
e este nunca é absoluto para além da morte,
me esqueço que és meu
e que partilhamos as virtudes do mesmo sangue
e o calor visceral da família que nos acolhe
e o amor em consecutivas explosões
de tão violento e orgânico
somos feitos da mesma matéria
por isso também sou teu
e tu és meu
sempre.
13 Abril 2014 : 20.50
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